O assassinato de defensora de direitos humanos e vereadora, Marielle Franco, e do motorista Anderson Gomes completou, em setembro, seis meses sem respostas sobre os autores, os mandantes e a motivação do crime. O fato foi denunciado em diferentes eventos na semana passada na Europa e na América do Norte. O objetivo foi dar visibilidade e pressionar as autoridades brasileiras pela solução correta do crime.
.
“A Anistia Internacional não vai medir esforços no sentido de mobilizar ativistas em todo o mundo para cobrar do governo brasileiro por respostas sobre o assassinato de Marielle e Anderson. A comunidade internacional está mobilizada e pressionando para que o caso seja devidamente investigado e que os verdadeiros responsáveis sejam levados à justiça”, disse Jurema Werneck, diretora executiva da Anistia Internacional Brasil, em viagem aos Estados Unidos.
.
Na última quinta-feira (20/9), Werneck esteve na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, Estados Unidos, onde participou do evento “SayHerName: Marielle Franco – Intersectional Fatalities Across the Americas”. A atividade, organizada pelo Centro de Estudos de Interseccionalidade e Política Social, encheu o auditório da universidade americana com pessoas interessadas na vida e na luta de Marielle, assim como o futuro das mulheres negras no Brasil. Werneck ainda se encontrou Kumi Naidoo, novo secretário-geral da Anistia Internacional, que também demonstrou apoio à campanha junto a outros diretores da organização de diversos países.
Jurema Werneck em Columbia
.
Kumi Naidoo, secretário-geral da Anistia Internacional
..u
Genebra, Suíça: Estado brasileiro é cobrado no Conselho de Direitos Humanos da ONU
Na mesma quinta-feira (20/9), a Anistia Internacional junto a Conectas, Justiça Global, Redes da Maré e Observatório da Intervenção realizou evento paralelo à Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, na Suíça. O debate “Militarização da segurança pública: intervenção federal no Rio de Janeiro, execuções extrajudiciais e riscos para defensores de direitos humanos” contou com a participação de Monica Benicio, companheira de Marielle Franco.
.
“Marielle trazia em sua história e em seu corpo as pautas pelas quais lutava. Minha companheira é uma mulher que se colocou desde o primeiro dia contra a intervenção [federal na segurança pública]. Uma mulher que denunciava a militarização das favelas e se tornou vítima do que denunciava. Agora venho aqui denunciar a incompetência do Estado brasileiro na investigação do assassinato da minha mulher Marielle Franco”, disse Monica Benício no debate, que foi transmitido ao vivo pela Red Internacional de Derechos Humanos.
.
No dia anterior, o grupo já havia se reunido com a Alta Comissária Adjunta da ONU para os Direitos Humanos, Kate Gilmore, e com a Relatora Especial da ONU para Execuções Sumárias, Agnes Callamard, que expressaram solidariedade a Monica Benício e manifestaram preocupação em relação à segurança pública no Brasil. As organizações soltaram uma nota pública logo depois do encontro.
.
“As denúncias que trouxemos para o Conselho de Direitos Humanos sobre as violações de direitos no contexto da intervenção federal e a falta de respostas sobre o assassinato de Marielle já foram feitas no Brasil. Mas as autoridades brasileiras parece que não estão ouvindo. Falharam em solucionar o caso de Marielle e não implementaram qualquer medida para reduzir os homicídios pela polícia. Diante deste quadro, a mobilização e a visibilidade internacional são essenciais” afirmou Renata Neder, coordenadora de pesquisa da Anistia Internacional Brasil.
.
Lisboa, Portugal: Festival de arte urbana homenageia Marielle Franco
Monica seguiu para Portugal, onde participou do Festival Iminente, de 21 a 23 de setembro, em Lisboa. Este ano, o evento de arte urbana se juntou à Anistia Internacional para exigir justiça para Marielle Franco, com destaque para a participação do português Alexandre Farto, o Vhils, que também é organizador do evento. O artista, que já esteve no Rio de Janeiro denunciando nos muros do Morro da Providência as remoções forçadas no período dos grandes eventos, criou um expressivo mural com o rosto de Marielle.
.
“Sinto-me honrado com o convite da Anistia Internacional para participar da campanha de conscientização pela vida e trabalho de Marielle Franco. Poder usar a minha arte para lançar luz sobre o seu caso é um privilégio. Convido todas as pessoas a agirem apoiando a Anistia Internacional”, disse Vhils.
.
“Com esta obra de arte em Portugal, queremos tornar o caso de Marielle Franco o mais visível possível – não só para celebrar a sua vida inspiradora e continuar a lutar pelas causas que lhe eram queridas, mas também garantir que os seus assassinos sejam levados à justiça. É a arte, de forma pacífica e audível, a exigir justiça e direitos humanos”, disse Pedro Neto, diretor-executivo da Anistia Internacional Portugal.
.
Montreal, Canadá: Ministras mulheres de todo o mundo por Marielle Franco
A irmã de Marielle Franco, Anielle Silva, esteve em Montreal, nos dias 21 e 22 de setembro, para participar do evento “Meeting of Women Foreign Affairs Ministers”. Ela se reuniu com representantes de organizações da sociedade civil canadense e com mulheres que são ministras das relações exteriores de 20 países. A atividade contou também com a participação de Valérie Plante, prefeita de Montreal e primeira mulher a ocupar o cargo. A repercussão internacional do assassinato de Marielle Franco motivou o convite a Anielle para ser uma das dez representantes da sociedade civil no encontro com as autoridades. Anielle participou ainda de uma roda de conversa na Universidade de Montreal.
Anielle com representantes da Anistia Internacional Canadá
..
“Fiquei feliz em ver que fora do Brasil as pessoas conhecem o caso e continuam nos apoiando e pedindo justiça. Esta repercussão mundial só demonstra a força que esse caso ganhou. As ministras negras vieram falar comigo, demonstrar carinho e dizer que sentiram muito a morte da minha irmã. Precisamos ecoar pelo mundo o pedido de justiça e perguntar quem matou e quem mandou matar, este crime não pode cair no esquecimento. Precisamos estar em todos os lugares. Volto ao Brasil fortalecida”, disse Anielle.
.
As ações em Portugal, Suíça, Estados Unidos e Canadá deram sequência a ida de Marinete da Silva, mãe de Marielle, à Itália no mês passado. Ela se encontrou com o Papa Francisco e afirmou que o Papa está acompanhando o caso de perto e que está preocupado com o assassinato de defensores de direitos humanos no Brasil. Marinete esteve também com autoridades no Ministério das Relações Internacionais e Cooperação Internacional italiano e na Embaixada brasileira. A família segue mobilizada por justiça.
.
“Marielle fazia um trabalho de cobrança e incomodava por ser uma mulher, negra, da favela, que ousou estar em um espaço que historicamente não é ocupado por pessoas como ela. A cada dia que passa, o reconhecimento internacional do exemplo de vida de minha filha aumenta e é transformado em luta por justiça, em cobrança ao Estado brasileiro. Minha família não vai descansar enquanto não tiver uma resposta sobre a motivação deste crime”, concluiu Marinete Silva.
.
Saiba mais
Seis meses sem resposta: arte urbana por Marielle Franco nos muros do Brasil e Portugal
Marinete Silva para TIME Magazine: O mundo quer saber: quem matou a minha filha Marielle Franco?