A condenação do ex-presidente General Efraín Ríos Montt, da Guatemala, por genocídio e crimes contra a humanidade cometidos durante seu mandato, é um passo histórico na longa luta do país pela justiça, declarou a Anistia Internacional.
O general Efraín Ríos Montt foi declarado culpado e condenado a 80 anos de prisão por seu papel como autor intelectual dos assassinatos de 1.771 pessoas e o deslocamento forçado de dezenas de milhares de pessoas da região do Triângulo Ixil no departamento [estado] de Quiché Sur em 1982 e 1983, durante o conflito armado interno da Guatemala. O general José Mauricio Rodríguez Sánchez, chefe de inteligência do General Ríos Montt durante seu tempo no poder, foi declarado inocente das mesmas acusações.
“Com esta condenação, a Guatemala inspira com seu exemplo – em uma região onde a arraigada impunidade dos crimes do passado continua sendo infelizmente a norma”, disse Sebastián Elgueta, pesquisador da Anistia Internacional sobre a Guatemala. “A Guatemala deve, agora, dar continuidade a este momento histórico, garantindo que todos os que participaram no assassinato, na tortura, na violação e no desaparecimento de dezenas de milhares de pessoas sejam levados à justiça.”
Uma comissão da verdade respaldada pela ONU descobriu que cerca de 200.000 pessoas morreram ou desapareceram durante os 36 anos de guerra civil na Guatemala (1960-1996). Mais de 80% eram de origem indígena maia. Apesar dos recentes esforços para fortalecer a justiça e a prestação de contas pelos abusos do passado, as forças armadas guatemaltecas seguem sendo pouco cooperativas no que diz respeito às investigações de violações dos direitos humanos cometidas durante o conflito armado.
O exército continua se negando a fornecer informações nas investigações sobre os homicídios, os desaparecimentos forçadas, o uso do estupro como arma de guerra e outros crimes cometidos durante o conflito. O fato de não apresentar a documentação é um grande fardo para as famílias e as vítimas que buscam justiça, ou simplesmente tentam encontrar o paradeiro de seus seres queridos desaparecidos.
“A condenação de hoje deve servir como um lembrete para o atual governo de seu dever para com as vítimas de guerra. O Presidente deveria aproveitar esta oportunidade para garantir uma verdadeira cooperação do exército com as investigações sobre os crimes do passado”.
Informações sobre o conflito na Guatemala
O conflito armado interno da Guatemala ocorreu entre 1960 e 1996.
Mais de 200.000 homens, mulheres e crianças foram assassinados ou desapareceram.
Efraín Ríos Montt foi presidente do país entre março de 1982 e agosto de 1983.
O conflito terminou em 1996 com a assinatura de um acordo de paz.
A Comissão de Esclarecimento Histórico apoiada pela ONU disse que o Estado da Guatemala era responsável pela maioria dos abusos.