Os países mais ricos do mundo devem pôr fim a sua escandalosa inação e começar a liderar uma resposta coordenada à crescente crise global de refugiados propondo um plano concreto para reassentar os 1,15 milhão de pessoas refugiadas mais vulneráveis do mundo e financiar as necessidades humanitárias, declarou nesta terça-feira (17) a Anistia Internacional em razão da Cúpula do G-20 em Antalya, Turquia.

Até esta data, os Estados membros do G-20 se comprometeram a reassentar aproximadamente 140.000 refugiados da Síria, cifra muito inferior à necessária. No ano passado, estes países ofereciam locais de reassentamento para a décima parte dos refugiados que necessitavam.

“Os líderes mundiais permaneceram à margem enquanto se desenvolvia sob seus olhos uma crise global de refugiados de proporções devastadores. Pior ainda, em alguns casos contribuíram ativamente para o sofrimento bloqueando os refugiados que buscavam segurança”, disse Audrey Garghran, diretora de Assuntos Temáticos Globais da Anistia Internacional.

“Alguns dos países mais ricos do mundo estão reunidos agora em Antalya e não devem desperdiçar esta ocasião para juntar forças e encontrar vias concretas e significativas para pôr fim ao sofrimento de milhões de pessoas refugiadas vulneráveis. O G-20 tem a oportunidade de demonstrar seu valor servindo de trampolim para tomar medidas drásticas que reuniram outras cúpulas.”

A Anistia Internacional pede também aos membros do G-20 que aumentem drasticamente o apoio econômico à assistência humanitária para os milhões de refugiados que sofrem devido aos graves cortes e carência de ajuda. Em novembro, o apelo humanitário da ONU para a crise de refugiados da Síria só está financiado em 50 por cento.

O contraste entre os principais países que acolhem os refugiados sírios e a resposta das potências do G-20 é notável. O Líbano, cujo PIB é de 44.500 milhões de dólares, acolhe atualmente o maior número de refugiados per capita, enquanto que a Rússia, com um PIB de 1,9 bilhões de dólares, não reassentou nenhum refugiado sírio.

“Até agora, a maior parte da atenção centrou-se na deficiente resposta da Europa à crise, mas esta cúpula é uma oportunidade para que outros países do G-20 demonstrem que estão dispostos a aceitar a responsabilidade que lhes confere seu destacado papel nos assuntos internacionais.”

“Enquanto Estados como Alemanha e Turquia vêm desempenhando um papel crucial na resposta à crise global de refugiados, e o Canadá tenha se comprometido recentemente a reassentar 25.000 refugiados sírios nos próximos dois meses, outros países, como Rússia e Arábia Saudita demonstram uma estarrecedora falta de compaixão para com os que fogem de uns conflitos brutais e da perseguição. Não é tarde demais para que os países mudem de rumo e recuperem certa dignidade moral”, declarou Audrey Gaughran.

“A crise na Síria é um exemplo deste desequilíbrio. Os líderes do G-20 presentes na cúpula não podem ignorar que se reúnem em um país que alberga atualmente mais de dois milhões de refugiados, mais que nenhum outro país no mundo. Não oferecer a sua ajuda é um escandaloso exemplo da abdicação de sua responsabilidade de alguns dos países mais ricos do mundo.”

“A apenas algumas centenas de quilômetros das luxuosas reuniões de alta segurança da cúpula do G-20, milhares de mulheres, homens e crianças arriscam sua vida diariamente em frágeis embarcações para alcançar a segurança das costas europeias. Ante uma crise destas proporções, tudo o que não seja um plano concreto para financiar em sua totalidade as necessidades humanitárias e compromissos claros e com prazos específicos de cada país para reassentar refugiados será um lamentável fracasso.”

Informação complementar

Aproximadamente 10% dos refugiados sírios – cerca de 400.00 pessoas – são especialmente vulneráveis e necessitam reassentamento. Até esta data, os países do mundo prometeram apenas uma quarta parte das vagas de reassentamento necessárias para os refugiados da Síria. O número de vagas prometidas que se tornaram realidade são muito inferiores.

Nos últimos meses, a Anistia Internacional documentou o lamentável fracasso de vários governos do G-20 na hora de responder à crise global de refugiados; recentemente, a organização publicou dados contundentes segundo os quais funcionários da Austrália, país anfitrião da cúpula do G-20 no ano passado, poderiam ter subornado traficantes de pessoas para deixar suas costas com embarcações com refugiados.

Globalmente, 86% das pessoas refugiadas estão acolhidas em países em desenvolvimento. 95% dos quatro milhões de refugiados que fugiram da Síria estão em cinco países anfitriões: Turquia, Líbano, Jordânia, Iraque e Egito.