Quando os líderes mundiais desembarcarem em Colombo para a Reunião de Chefes de Governo da Commonwealth (CHOGM ) esta semana, eles terão que olhar para além das bancas de jornal para descobrir o que realmente está acontecendo no Sri Lanka.

Porque poucos se atrevem a escrever a verdade neste país do sul da Ásia, já que criticar o governo pode ter consequências terríveis.

Sandya Eknaligoda sabe muito bem o quanto isso pode ser perigoso. Seu marido, o jornalista e cartunista Prageeth, está desaparecido há quase quatro anos.

Na última vez que ela o viu, no dia 24 de janeiro de 2010, ele estava saindo de casa para participar de uma manifestação pública em apoio ao candidato presidencial oposicionista, que ocorreria dali a dois dias.

“Quando eu voltar esta noite, vou te ajudar com os papéis do seguro”, ele disse antes de sair de casa.

Mas, quando ele não voltou naquela noite, Sandya sabia que algo estava muito errado.

‘Senti que algo havia acontecido’

Prageeth já havia sido sequestrado em agosto de 2009, por homens numa van branca, sendo solto no dia seguinte. Depois disso, ele e Sandya combinaram que ele iria telefonar caso voltasse para casa depois das 9 da noite. Mas naquela noite, ele não ligou, e o celular dele tocava, sem ninguém atender.

“Senti que algo havia acontecido. Comecei a ficar com medo. Fui ver amigos, mas sem descobrir nada”, Sandya contou à Anistia Internacional.

No dia seguinte, ela foi à polícia informar o desaparecimento do marido. Mas não iniciaram inquérito.

A polícia não queria aceitar a queixa, e disse que muitas pessoas só queiram chamar a atenção, alegando desaparecimento.

Uma semana depois, com o marido ainda desaparecido, Sandya foi ao quartel general da polícia, à comissão dos direitos humanos, e apelou a quem quisesse ouvir.

Teve início uma campanha internacional, pedindo às autoridades do Sri Lanka que investigassem e divulgassem seu paradeiro.

Quase quatro anos após seu desaparecimento forçado, ninguém sabe o que aconteceu com ele. Continuam as audiências quanto ao seu caso.

“Procurar Prageeth tornou-se minha religião. Só vou acabar com esta campanha no dia em que acha-lo e obter justiça. Às vezes fico com medo, notando que alguém está me seguindo ou me contam que estou sendo seguida. Mas para mim o desejo de encontrar Prageeth é maior do que qualquer medo”, disse Sandya.

Punido por pensar de forma diferente

Sandya acha que o marido foi sequestrado por criticar as autoridades e por causa de sua investigação sobre alegações de que o exército do Sri Lanka usou armas químicas no norte do país, em 2008, um ano antes do fim do prolongado conflito armado interno.

A redação da Lanka-e-News, o website para o qual trabalhava, foi alvo de um ataque incendiário em fevereiro de 2011, que quase destruiu inteiramente o lugar. O fundador e redator do website, Sandaruwan Senadheera, vive agora no exílio, depois de repetidas ameaças de morte que o levaram a fugir do país.

Organizações de direitos humanos, incluindo a Anistia Internacional, dizem que histórias como as de Prageeth são comuns no Sri Lanka .

Jornalistas que se atrevem a criticar as autoridades têm sido presos e torturados. Alguns foram até mortos, e muitos fugiram do país, temendo pela vida.

De acordo com ativistas da liberdade de imprensa, pelo menos 15 profissionais da mídia foram mortos desde 2006 e mais de 80 jornalistas foram para o exílio desde 2005.

Na maioria dos casos, os responsáveis não são processados.

“As coisas só vão mudar se os chefes de Estado que forem ao CHOGM abordarem essas questões. Eles precisam pressionar o [presidente do Sri Lanka, Mahinda] Rajapaksa quanto às questões de direitos humanos. Se isto não acontecer e se os chefes de Estado não abordarem essas questões, e lhe derem a presidência da Commonwealth, essa situação não vai mudar”, disse Sandya.