Os Jogos Olímpicos de Inverno em Shochi, na Rússia, começam hoje e o país já registra a prisão de dois presos de consciência. Para a Anistia Internacional, as autoridades russas devem por fim à perseguição dos ativistas da sociedade civil, proteger os direitos à liberdade de expressão pacífica e libertar os prisioneiros de consciência de Sochi: Igor Kharchenko e Yevgeny Vitishko.

O caso de Igor Kharchenko

Em um julgamento rápido, e claramente injusto, onde não estava presente nenhum advogado, as autoridades russas condenaram o ativista ambiental Igor Kharchenko a cinco dias de detenção por supostamente “desobedecer a ordens legítimas da polícia”, afirmou a Anistia Internacional.

Kharchenko, da ONG russa Vigia Ambiental do Cáucaso do Norte, foi detido na segunda-feira à noite e novamente na terça-feira, depois que um dos agressores mascarados destruíram seu automóvel em Krasnodar, a capital da região russa onde serão celebrados os Jogos de Inverno de Sochi. A Anistia Internacional teve acesso às imagens de sua detenção que contradizem a versão de que ele tenha desobedecido a ordens da polícia.

O caso de Yevgeny Vitishko*

Há poucos dias do início dos Jogos Olímpicos de Inverno, foi preso um ativista. Infelizmente, tais detenções não são raras na Rússia, mas o momento escolhido para essa detenção em especial, manda um recado sombrio para a sociedade civil russa.

O ambientalista planejava ir para Sochi, mas foi parado pela polícia, por “vandalismo menor” e condenado a 15 dias em prisão administrativa. Seu crime? De acordo com as autoridades russas, ele praguejava enquanto esperava o ônibus em um ponto.

Em vez de ficar em Sochi durante a Olimpíada de Inverno, Vitishko vai passar os próximos 15 dias em prisão administrativa, e Sochi2014 nesse momento teve seu primeiro prisioneiro de consciência.

Durante esses 15 dias, ele não poderá falar sobre os danos ambientais causados pelas obras de infraestrutura olímpica ou outras questões que não se enquadram no show olímpico de Putin. O caso de Vitishko é outro exemplo claro de perseguição a ativistas da sociedade civil nas vésperas das Olimpíadas. É um recado simples e terrível das autoridades russas à sociedade civil do país: se você não aceitar as regras, você será o próximo.

Trabalhadores em Sochi*

De acordo com o advogado da organização de direitos humanos Memorial em Sochi, Semyon Simonov, que trabalha defendendo os direitos de trabalhadores migrantes, muitas pessoas que trabalharam na construção dos estádios Olímpicos e hotéis em Sochi não foram pagos pelo seu trabalho árduo.

Quando terminaram as obras, muitos foram pressionados a deixar a Rússia, enquanto outros foram deportados à força. Há uns quatro meses, Simonov falou aos membros do Comitê Olímpico Internacional (COI), sobre as violações dos direitos dos trabalhadores migrantes, e entregou à delegação do COI uma lista com 700 nomes de pessoas cujos direitos foram seriamente violados. Desde então, Simonov não foi mais contatado pelo COI. Apenas uns poucos da lista receberam o pagamento devido.

Simonov também falou sobre como é difícil organizar manifestações em Sochi, mesmo fora do contexto dos Jogos Olímpicos.

“Você pede autorização para uma manifestação (como exige a lei), e em seguida é convidado a ir à prefeitura, onde as autoridades tentam convencê-lo a cancelar o evento. Se isso não funcionar, vai acontecer que na mesma data e hora uma escola está organizando uma festa ou jogo no local. Então, as autoridades lhe sugerem um outro lugar, que por ‘coincidência’ é um parque no subúrbio, onde você não será ouvido ou visto por ninguém.”

*Com informações de Emile Affolter, assessor de imprensa da Anistia Internacional Holanda que esteve em Sochi