Informação é fonte de poder. Devido à popularização cada vez maior das novas tecnologias, 2010 foi o ano em que governos repressores perceberam que suas violações de direitos humanos não ficariam mais em segredo por muito tempo.
Algumas ações individuais tiveram fortes impactos na comunidade internacional. Um exemplo tão contundente quanto trágico do poder que podem ter as ações individuais quando amplificadas por meio das novas ferramentas do mundo virtual é a história de Mohamed Bouazizi. Em dezembro de 2010, esse vendedor de frutas ambulante da Tunísia, ateou fogo ao próprio corpo, em frente à prefeitura municipal, para protestar contra o assédio da polícia, a humilhação, as dificuldades econômicas e a sensação de impotência sentidas por jovens como ele. As notícias que se espalharam pela internet deste ato de rebeldia estimularam a população. Pouco depois, manifestações tomaram conta do país. O governo tunisiano tentou impor um bloqueio aos meios de comunicação e impedir o acesso individual à internet, mas graças às novas tecnologias as notícias se propagaram rapidamente. Em janeiro, menos de um mês após o ato desesperado de Mohamed Bouazizi, o governo caiu. A população tunisiana comemorou o fim de mais de 20 anos de um regime que atuava com impunidade.
Outro exemplo do uso de ferramentas de informação é o site Wikileaks, que ao longo de 2010 publicou documentos confidenciais do governo dos Estados Unidos, copiados por uma analista de inteligência do exército de 22 anos, que atualmente encontra-se detida. Criado em 2007, Wikileaks é um site que se dedica a publicar informações recebidas de uma ampla variedade de fontes, criando um repositório virtual de fácil acesso para autores de denúncias do mundo.
No entanto, não podemos esquecer que as tecnologias não respeitam e também não prejudicam os direitos humanos. Elas são e continuarão sendo instrumentos a serem utilizados tanto por aqueles que buscam desafiar as injustiças cometidas em todo o mundo quanto por aqueles que querem controlar o acesso à informação e suprimir as vozes divergentes.
Apesar de tudo, vivemos uma época fascinante para a Anistia Internacional e para outros ativistas de direitos humanos que vislumbram as múltiplas possibilidades oferecidas pela tecnologia para revelar a verdade e trazer à tona debates que estejam livres da censura estatal e que superem fronteiras para unir as pessoas. Alimentamos a esperança de viver num mundo verdadeiramente igualitário, em que todos possam ter acesso às informações relevantes, em que todos possam participar plenamente das decisões que afetam suas vidas e onde nenhuma injustiça deixe de ser contestada.
Nossa inspiração vem da resistência de milhares de prisioneiros de consciência, da coragem de inúmeros defensores dos direitos humanos e da tenacidade, contra todas as adversidades, de centenas de milhares de cidadãos comuns na Tunísia que, confrontados com a trágica história de Mohamed Bouazizi, resolveram manter acesa a chama da vida desse jovem, organizando-se para combater o abuso de poder que levou à sua morte. Na Anistia, nós nos comprometemos a redobrar nossos esforços a fim de fortalecer o movimento global de direitos humanos e a continuarmos a lutar para ter certeza de que ninguém mais se sinta tão abandonado em seu desespero a ponto de não enxergar uma saída.